sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Galiza (2008)
O Horror de ser Pobre

Risco c'um traço
(Um traço fino, sem azedume)
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão
Nunca mais
Olhar com azedume.
O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-
-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas
Destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do público
Arruina o espinhaço.
O pobre
Nunca está sozinho.
Estão todos sempre
A espreitar-lhe pra o quarto.
Abrem-lhe buracos
No prato da comida.
Não sabe pra onde há-de ir.
O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá pra dentro.
A Terra enxota-o.
O vento Não o conhece.
A noite faz dele um aleijado.
O dia Deixa-o nu.
Nada é o dinheiro que se tem.
Não salva ninguém.
Mas nada ajuda
Quem dinheiro não tem.
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Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas' Tradução de Paulo Quintela